25.7.15

Não é exatamente um gênio

Já que agora eu posso usar o carro, fui dirigindo comprar comida pro Pitt. De quebra, trouxe um daqueles brinquedos de colocar comida dentro, aí qdo o gato mexe no brinquedos, os biscoitinhos vão caindo. Como o Pitt adora comida, achei q ele ia gostar.

Olha, ele até gostou. Só que não entendeu como o brinquedo funciona. Eu mostrei pra ele, í ele comeu os biscoitos. E miou, pedindo q eu rolasse o brinquedo de novo. Eu rolei. nAí ele comeu pos biscoitos e pediu que eu rolasse o brinquedo de novo. Rolei. Ele comeu. Aí saí de perto.

Agora ele tá me seguindo pela casa inteira miando pra eu rolar o brinquedo de novo! Como eu explico que ele tem q rolar o treco sozinho? =o.O=

24.7.15

Arrasando arrasadoramente!

PAAASSEEEIIII NOOO TESSSTEEE DA AUTOESCOLAAAAAAAAA!!!!

Já estou com minha Full License australiana, já posso dirigir sozinha pra qqr lugar!

E na real - não só dirijo direitinho do outro lado da rua, mas passei no teste de noite, com chuva e com trânsito de saída do trabalho.

O cara q fez meu teste (que parecia o Papai Noel sem barba) disse que 'eu tava dirigindo melhor no teste q muita gente habilitada ao nosso redor'.

Ai, gente, desculpa eu estar amando myselfezinha aqui, mas é q tô feliz pra caramba. Esse fim de semana finalmente posso pegar o carro pra dar umas voltas sem ter obrigatoriamente alguém 'tomando conta' do meu lado, como diz a lei australiana para pessoas com Learner's License.

VRUUUUMMMMMMMMMMMMM!!! :D

17.7.15

Pequena diferença

Num pequeno parenteses, só queria deixar registrado aqui que gasta um bocado da minha paciência lidar com gente que não sabe que "analisar criticamente" e "criticar" não são sinônimos.

Mais amor no mundo, gente. Tá precisando, né?

15.7.15

Em Madri eles sabem como fazer um museu

No dia seguinte, cruzamos a Praça de Espanha com sua estátua gigante de Dom Quixote e fomos todos ao Museu Cerralbo, um lugarzinho pouco conhecido de Madri, mas que é sensacional.

E lá vamos nós!

O Marquês de Cerralbo era um nobre que pelo jeito tinha gosto pras nerdices da época. O 17o marquês, que doou a casa para o governo para que fosse transformada em museu, era digno de uma novela steampunk: no século 19, ele tinha telefones da Ericsson, relógio despertador 'a bateria e um termômetro/barômetro com calendário automático. Além de enormes coleções de arte, armas e joias. Vale a pena visitar a casa dele.

A casa do cara é uma cápsula do tempo! Olha o naipe dessas salas!

E sabe uma das coisas mais legais? Não pagamos nada pra entrar no museu, porque era Dia Internacional dos Museus e a cidade toda estava com visitas gratuitas! Não sabíamos, mas foi uma baita sorte!

De lá, fomos almoçar no MacDonald's na Praça Callao que tem uma vista linda para a Gran Via. Depois, resolvemos aproveitar a promoção dos mudeus e seguimos para o Prado. É 'só' o segundo maior museu do mundo, depois do Louvre. E nossa, como é lindo. Tem centenas de Goyas, Velázques, Rafaels, Bosch... Não pode bater fotos lá dentro, então vai uma ilustração de um de meus quadros favoritos, "A anunciação", de Fra Angelico:

Tudo o que aparece amarelo nessa imagem é na verdade dourado. Delicado. Lindo. O azul, o cor de rosa, as dobrinhas são todas perfeitas.

Nós ficamos SEIS HORAS dentro do Prado. Vários quadros chamaram nossa atenção, como o "Jardim das delícias" do Bosch e "Juana, a Louca" de Pradilla. Não conseguimos ver tudo. Tivemos de sair porque o museu fechou. Mal podíamos acreditar que tínhamos visto todas aquelas obras de arte, algumas da Grécia antiga, a poucos centímetros dos nossos olhinhos. Estávamos na frente de uma pintura de Rafael, provavelmente na mesma posição que ele esteve séculos atrás. Eu acho isso incrível! :D

Ainda cheios de empolgação fomos jantar um ragu delicioso na Gran Via e fomos dormir. Já falei que os travesseiros eram os mais fofos? :D

14.7.15

Em Madrid eles sabem como fazer um palácio

Logo cedo, pegamos o trem para Madri. Fizemos MUITAS baldeações pra ir ao aeroporto, pegar nossa mala (que estava guardada lá até agora!) e voltar para o centro para encontrar o pai e a mãe.

E MEU DEUS, QUE ALEGRIA VER O PAI E A MÃE.

Além de serem fofíssimos e lindíssimos e cheirosos (enquanto eu e o Clinton estávamos beeeem fedidinhos), eles organizaram um hotel joia pra ficarmos em Madri. Era lindo, bem no centro, e tinha um neon verde no banheiro que eu não sei pra que servia, mas era lindo! :D

Olha que negócio fashion!
Tomamos um banho, colocamos roupa limpa de verdade pela primeira vez em doze dias e saímos pra comer. Passeamos na Gran Via, na Plaza Maior, na Plaza del Sol, vimos o ursinho símbolo de Madri... Enfim, passeio bem família.

Depois fomos à catedral Santa Maria de Almudena, a maior da cidade. É bem diferente das outras que vimos até agora. Tem muitas obras de arte moderna, e talvez seja uma das melhores combinações de tradicional e moderno que já vi.

E depois de ver uma igreja que me lembrou da minha irmã e uma que lembrou meu avô, essa catedral tinha "Maria" bem grande pintado num vitral.

Bem pertinho do céu, onde minha Vó Maria está, com certeza nos assistindo passear pela Espanha - terra da mãe dela. Aquele vitral me deixou bem feliz, porque só me lembrou coisas boas.

Vó, pensei muito em vc! Te amo muito!

Depois atravessamos a rua e levei o Clinton no palácio real. O pai e a mãe já conheciam, então form para o hotel descansar. Nós ficamos umas 3 horas dentro do palácio, e nossa, como aquilo é LINDO!

Imagina o trabalho pra esculpir todo esse esse salão rococó!

Dali, encontramos o pai e a mãe pra jantar umas pizzas ótimas, apesar da dificuldade que a garçonete tinha de contar quantas promoções pedimos. Papeamos muito sobre o caminho e fomos dormir. Como aquela cama era maciaaaaaaa!

10.7.15

O Paraíso dos Nerds Medievais

De manhã cedinho, fizemos a baldeação de trem de Madrid para Toledo - é a segunda vez que passamos pela capital espanhola nessa viagem e inda não botamos o pé na cidade! Mas teremos tempo pra isso depois. Agora, nosso destino era Toledo, ex-capital do Império Visigodo, e sede da mais alta hierarquia religiosa da Espanha. A cidade é toda murada, continua preservada como nas épocas medievais. Dois nerds como nós não poderiam passar pela Espanha sem visitar esse lugar.

Lá vou eu, com minha mochila que a essa altura já faz parte de mim.

A cidade já começa bonita na estação de trem. Pegamos um táxi até o nosso hotel, a Casa do Manolo. Recomendadíssimo! Preço bom, lugar lindo logo atrás da catedral e o Manolo, que é o dono, é a pessoa mais fofa. Até nos deu um upgrade de quarto quando falamos que estávamos chegando de Santiago.

Fomos direto para a catedral de Toledo, que é uma das maiores da Europa, e tem uma das esculturas mais lindas que já vi na vida. Se chama 'Transparente' e fica atrás do altar. É uma imagens de anjos em mármore branco e ouro, iluminadas por um buraco no teto. Parece simples, mas só vendo pra acreditar. Batemos várias fotos e ainda assim foi difícil mostrar como aquilo se parece. Aqui vai uma do google pra ilustrar.

E eu não consigo nem fazer um boizinho de batata.

A catedral é toda branca, tem pinturas lindíssimas de el greco, velazquez e mais um monte de tartarugas ninja na sala do tesouro. Enquanto estávamos lá, um músico estava afinando os órgãos para um concerto que haveria de noite. Tivemos o prazer de ouvir músicas como Harry Potter e Senhor dos Anéis num órgão de tubo com acústica de catedral. De tirar o fôlego.

Depois de várias horas lá dentro, fomos almoçar no restaurante Cristo de la Luz, É um restaurante sírio. Achamos o nome esquisito, mas a comida era ótima. Na frente, ficava uma mesquita, também chamada Cristo de la luz. Aí tinha algo estranho, né? Perguntamos o porquê do nome, e descobrimos que durante a guerra da Reconquista, os muçulmanos foram expulsos de Toledo e a mesquita foi toda redecorada com temas cristãos. O teto del, por dentro, é cheio de santos. Hoje ela voltou a ser mesquita, mas não há serviços religiosos prestados lá. Tornou-se um local de visitação para que as pessoas admirassem um tipo de arte e cultura diferente - sem impor o delas mesmas.

Depois fomos à Sinagoga de Maria Branca. Mesma história. Era uma sinagoga judia, aí os judeus foram expulsos (ou forçados a se converterem) e o lugar virou igreja, depois virou quartel e foi até estábulo de cavalos. Não consigo nem imaginar o quanto deve ter sido dolorido. Imagina se a Catedral de Floripa virasse um chiqueiro ou uma plantação de rabanetes de repente?

Uma guia lá dentro explicou que durante o reinado de Isabem e Fernando, em que todos tiveram que se converter em cristãos, foi a época em que a culinária com carne de porco mais cresceu na Espanha. Como nem judeus nem muçulmanos comem porco, os cristãos convidavam essas pessoas pra jantar e, pra testar se elas tinham se convertido mesmo e agora eram 'confiáveis', serviam carne de porco.
Eu achei duma maldade danada. Tá na hora de a gente aprender com essas burrices da história e aceitar mais as pessoas.

Visitamos a capela onde se encontra o quadro do Enterro do Conde de Orgaz, de El Greco, e depois nos inscrevemos e dois tours noturnos a pé pela cidade - porque a gente quase não andou nessa viagem, né?

deu trabalho traduzir tudo pro Clinton, mas pra quem entende espanhol recomento os tours Toledo Mágico e Toledo Sinistro, feitos pela empresa que fica a cinco passinhos da casa do Manolo. Contaram várias histórias dos moradores da cidade, bruxas, alquimistas, e até levaram a gente pra umas cavernas subterrâneas encontradas embaixo das casas.

O guia contou que, durante a segunda guerra mundial, Hitler mandou uma equipe para Toledo para explorar o local e tentar encontrar a Mesa do Rei Salomão. Ele achava q ela estava na cidade porque os Romanos roubaram a tal mesa da Babilôni, e depois os visigodos roubaram a mesa dos Romanos. E quando expandiram seu reino, os visgodos tiveram Toledo como capital por muitos anos. Então a mesa podia estar em algum lugar na cidade.

Se está, ninguém sabe.,p> Paramos de passear era meia-noite, e por sorte na Espanha os lugares ficam abertos até tarde. Comemos um pão com Jamón campeão e fomos dormir, felizes de termos vindo a esta cidade. Amanhã tem mais estrada pela frente.

9.7.15

Coincidências do coração

E aí eu estava aqui, sonhando acordada com as viagens que quero fazer pelo mundo. Peguei um guia sobre um lugar que quero conhecer, e abri na página sobre a cidade onde eu começaria o passeio.

Essa exata página começa com a frase que minha mãe me disse no dia do meu casamento. "Olhe para o caminho e pergunte a si mesma: esse caminho tem coração? Se tiver, é um bom caminho."

Aaaacccchooo que eu devia pensar com carinho nessa viagem. :D

E tô feliz que agora falta pouco pra eu ir pro Brasil dar um abração na minha família que eu AMO =^.^=

4.7.15

O fim - e a conclusão que o caminho é muito maior

No dia seguinte, dormimos até 'tarde': 8h30. Descansados e (na medida do possível) limpos, tomamos café e fomos visitar a catedral, desta vez direito.

A catedral é muito bonita e muito GRANDE, não conseguimos uma foto onde apareça ela toda. Seguindo a tradição, demos um abrço na estátua de São Tiago que fica no altar e entramos na cripta, onde estão os ossos do santo. Agradecemos pela viagem, por termos saúde pra encarar uma vigem dessas e por tudo o que vimos no caminho.

Também fizemos o tour com audioguia, que explicava boa parte das capelas, visitamos o museu dos tesouros (só umas bobaginhas, tipo quadro de Velazques, El Greco, Goya, um monte de ouro e diamantes...) e fomos com uma guia para o teto d catedral, onde ela nos explicou um pouco da história da cidade olhando de cima.

Foi mais um dqueles momentos "mordi a língua". Ao longo da trilha, várias vezes eu me peguei julgando o pessoal que vem ultra cheio de equipamentos, gps, tudo em titânio, e dorme só em hotel chique. Eu e o Clinton questionamos onde estaria o quesito 'penitência' de fazer o caminho assim, já que uma das razões originais do Caminho de Santiago era a pessoa pagar seus pecados por causa da dificuldade da trilha. Mas se tem mochilas Davi, hotel chique, gps, e um guia q vai na frente reservando restaurante, traduzindo tudo e apontando os atalhos, a gente achou q era meio demais.

Mas a guia do telhado disse uma coisa que destruiu o meu preconceito a machadadas. Ela disse "a cidade só cresceu depois que os peregrinos 5 estrelas começaram a vir em peso. Peregrino tradicional, sujinho, é muito lindo e espiritual mas não traz dinheiro pra cidade. É o peregrino cinco estrelas que cria empregos, precisa de hotel, restaurante, guia, manicure, cabeleireiro."

Pá, anota mais essa no caderninho de bordoadas que o Caminho te deu.

Mas aí, feliz por ter aprendido mais algo, eu passei a admirar ainda mais aquela cidade, que estava ali de portas abertas pros limpinhos e pros sujinhos, pr quem andou 800km ou pra quem fez só os últimos 100km. Cada um tem seu caminho, e só a própria pessoa sbe o que vi aprender nele.

A sensação de andar lá em cima era incrível

Dava pra ver a cidade toda!

A bacia de pedra de lavar peregrino fedido lá embaixo!
O altar principal da catedral, onde foi a missa. Esse porta-incenso pendurado pesa 50kg.
O altar da capela das relíquias é todo entalhado em madeira.

Depois de ficarmos a manhã inteira na catedral, que é lindíssima, fomos almoçar num restaurante parceiro do hotel (onde o vinho seria de graça). Passeamos pelo centro, compramos símbolos de Santiago para nossas mochilas e depois voltamos 'a catedral para a Missa dos Peregrinos. E como o mundo dá umas voltas engraçadas, sabe quem sentou do nosso lado? O Peter e a Heather, os peregrinos de Camberra que tínhamos encontrado diiiiiias atrás. Chegamos juntos.

Foi uma missa muito bonita, quase ecumênica, sem aquelas chatices de 'temer a Deus blá blá'. Era sobre amor e respeito, e eu traduzi o melhor q pude para os três australianos, tentando não incomodar quem estava ao redor. Tinha cerca de 2 mil pessoas dentro d igreja.

O trecho q nos marcou foi esse:

"Ao longo do Caminho, vocês peregrinos encontraram pessoas do mundo inteiro. Pessoas muito diferentes de vocês. Alguns em momentos de alegria, alguns em momento de dificuldade. Compartilharam água. Compartilharam sanduíches. Compartilharam band-aids e remédios. Porque no Caminho vocês todos se sentiam peregrinos e se ajudaram.
Se puderem levar para casa uma lição apenas dessa experiência, levem a lição de compartilhar. Somos todos humanos no Caminho da vida, que para alguns é mais árduo e para outros é quase um passeio. Compartilhe sua água. Compartilhe sua comida. Estenda a mão para que o outro supere um obstáculo. Você não precisa estar na Espanha para estar no Caminho. Basta estar vivo. Bom Caminho a todos."

Só de digitar eu quase choro de novo. De lembrar da Igrejinha do Cebreiro, da taxista, do seu José do Pão, da americana que gostava de flans, da cozinheira da Pulperia, de todos os peregrinos com quem conversamos rapidamente ou por vários kms, da recepcionista do hotel... De tanto que foi compartilhado ao longo dos nossos 155km.

Saímos da missa felizes. E aí era hora de seguir viagem, porque hoje tinha vaga nos trens, e amanhã não. Fomos comer de novo no Celmo do Caracol, porque era muito bom, e descemos com as mochilas para a Estação de Santiago. Tínhamos uma cabine com beliche e banheiro, mas não pensem que isso quer dizer luxo. Foi caríssimo, disparado o maior gasto que tivemos na viagem toda, e ainda assim o espaço TODO da cabine+banheiro era a largura de uma cama de casal. Pra duas pessoas, beliche, banheiro...

Não tem foto porque não tinha espaço pra esticar o braço e bater foto.

Mas admito: eu adorei. Dormi com o balancinho do trem que foi uma beleza! Depois de nove horas, o condutor bateu na porta de manhã cedinho e avisou que estávamos chegando na estação em Madri, onde faríamos baldeação para Toledo, nossa próxima parada.

Porque o Caminho continua.

3.7.15

Nós e toda a torcida do Corinthians

Sabe o que fizemos quando acalmamos da emoção de chegar na catedral? Acendemos um vela na capela cor-se-rosa dedicada à Nossa Senhora que estava bem na nossa frente, agradecemos por termos chegado aqui, pela família e amigos maravilhosos que temos... e viramos as costas e fomos embora.

Estávamos tão cansados que tentar visitar a catedral naquela hora seria um desperdício. Dificilmente conseguiríamos andar por tudo e entender o que estava ao nosso redor. Era tudo muito grande, muito bonito e muito cheio de gente, por causa do feriado de Santiago. Saímos pela porta da frente, para quase cair em cima de um coral e uma orquestra tocando na escadaria principal da catedral.

Dali, andamos até a Oficina do Peregrino, onde você apresenta sua credencial toda carimbada e recebe seu certificado. Achamos que, tendo chegado na cidade tarde (eram passadas das 20h), o escritório estaria vazio. Ledo engano: estávamos nós, toda a torcida do Corinthians e a do Santiago Futebol Clube na fila. Naquele dia, o escritório deu certificados para 1200 peregrinos. SÓ NAQUELE DIA.

O lado bom é que conversamos com um pessoal legal na fila. O lado ruim é que vimos que tem peregrinos e 'peregrinos'... Gente tentando furar fila, jogando lixo no chão, muito triste. Esses realmente tinham um caminho muito diferente do nosso. Mas chegou nossa vez, e os certificados são mega bonitinhos. Pegamos tanto o clássico "Compostelana" (em latim) quanto o de distância, em Espanhol.

De Piedrafita a Santiago, 155km. Yeah! :D

Depois fomos para o hotel São Clemente. Lindo, confortável, bem localizado e com as recepcionistas mais fofas. Tomamos um banho e fomos jantar. Após olhar um pouco o redor, entramos num lugar chamado Celmo do Caracol, que era bonitinho e um dos poucos em que a cozinha ainda tinha vagas no restaurante, não só no bar (eram quase 22h de um feriado). Um rapaz era garçom, cozinheiro e host. E mandou bem pra caramba. Comemos umas torradas com coberturas maravilhosas e uma bandeja de carnes assadas que eram dos deuses. Amamos tudo. O Clinton falou que até a cerveja Estrella Galícia era boa. Dali, andamos para o hotel, olhando a cidade ao redor, que é muito bonita. Amanhã a gente passeia. Por agora, nos bastou dormir como pedras, se é que pedras ficam felizes.

2.7.15

A Caminho de Compostela, parte 10 - Os últimos 40km, ou "Falta muito, Papai Smurf?"

Ponto de partida: Árzua
Distância de Santiago: 39km

Começamos a andar às 5h30 da manhã. Tomamos café numa padoca perto da igreja (que tava aberta por saber que peregrinos levantam cedo), e colocamos as capas de chuva, porque começou a chover consideravelmente. Por sorte temos meias extras limpas e sequinhas, pois provavelmente teríamos de trocá-las dali a algum tempo. E novamente a lanterninha de mineiro foi útil. Começamos o dia pensando "quando, nas nossas vidinhas normais, sairíamos pra andar numa estrada desconhecida, no escuro e com chuva?". Que bom que nossas vidinhas têm momentos que não são normais!

Paramos duas vezes pela manhã, uma para comprar bocadillos pra levar (e até demos um pedacinho pra um gatinho de rua/do mato que passou por ali) e outra pra comer e massagear as pernas. Fizemos alongamento e comemos sentados num tronquinho. Quando chegou a hora da siesta, tínhamos feito 25km e paramos para almoçar mais a sério (aka 'tomar caldo gallego') em El Payo. Comemos e depois descansamos por mais de uma hora, deitados no banquinho atrás da igreja, sem sapatos.

Aí pensamos: "faltam só 14km pra Santiago... Isso dá 3-4 horas de caminhada. Se recomeçarmos decagarinho às 15h, chegamos lá ainda com céu claro!".

Pra encurtar a história: MÁ IDEIA. A maioria dos guias recomenda fazer essa última parte da trilha em dois dias, e existe uma razão. Mis pra frente, a 6km de Santiago, tem uma morranca chamada Monte do Gozo, que não tem nada de alegre ou prazerosa. Aliás, quando percebemos que tínhamos entrado numa fria (mais uma, porque vocês já notaram que fazemos isso com frequência, né?), nos sentimos no Monte do Bozo sendo uns palhaços.

Me deixa aqui o chão que tá gostoso!

Aliás, foi nessa morranca que a peregrina alemã de 80 anos deixou a gente comendo poeira. E quando a reencontramos tomando uma coca-cola num albergue mais pra frente, ela disse que caminhou 53km naquele dia! Olha, invejei a disposição daquela mulher!

A um certo ponto, você começa a enxergar Santiago de longe. E aí percebe q faltam só alguns quilômetros pra cidade... e provavelmente mais uns tantos pra chegar até a catedral, que é no centro. Cada passo virou um desafio. A essa altura já eram 6 e pouco da tarde, e estávamos TÃO PERTO! Paramos num boteco chamado "Pulperia Lázaro", onde tomamos um café pra nos fazer voltar dos mortos mesmo. O lugar era todo feio e bagunçado, mas tinha tanta gente que achamos que devia ser bom. O café com leite, pelo menos, era!

Cadê a trilha? Entramos na cidade! Tá pertinho!

Então nos aproximamos do centro. Muita gente. Socado de gente. Difícil de ver a trilha no chão, ainda mais porque a vontade era olhar pra cima, pra ver os prédios lindos do centro histórico. E cadê a catedral? Cadê a Catedral? Cadê...

E ela aparece de repente, ao virar uma curva e sair numa praça.

É meio abrupto. Depois de tantos dias em movimento, você para de repente. E admira. Cada passo escadaria dentro é lento e pesado, porque as perninhas já estão no fiapo do fiapo. E aí você descobre que aquela multidão toda está lá porque você, sem saber, chegou à Catedral no Dia das Ascensão de Santiago, quando se comemora o dia em que São Tiago entrou no Paraíso.

E nós, entramos onde? Minhas pernas e costas estão todas ferradas, mas se isso que eu vivi não foi lindo como o Paraíso, eu não sei o que é.

Comecei a chorar muito. Muito. De soluçar que ressoava pela catedral inteira, mesmo com aquele povo. Alguns turistas apontavam pra gente (acho até q alguns tiraram foto), porque era óbvio que éramos peregrinos q tinham acabado de chegar. E vocês podem tirar muito sarro de mim, mas a sensação que eu tive, aquele monte de sentimentos explodindo juntos, foi mais ou menos a mesma desse momento aqui:

ACABOOOOUUUU! ACABOOOUUU!!!!

Mas será que acabou mesmo? ;)

1.7.15

A caminho de Compostela, parte 9 - Tá meio comprido esse quilômetro, né?

Ponto de partida: Palas de Rei
Distância até Santiago: 68km

Levantamos no total breu, tomamos s garrafinhas de suco que preparamos ontem e saímos pra caminhar umas 6h40 da manhã. A lanterninha de mineiro do Clinton (aquelas pequenininhas de por na cabeça) foi providencial, porque logo que saímos da cidade tinha um trecho de mato que não se enxergava nada.

Aliás, a manhã foi quase toda no mato e em bosques. Uma caminhada deliciosa, fomos cantando e brincando o tempo todo porque estava fresquinho. O Clinton até vestiu a capa de chuva camuflada só pra brincar de "Arqueirinho" (confie na capa!). E ele ficou invisível mesmo.

Essa é foto em que ele está mais visível.

Eu vou, eu vou, pra Santiago eu vou...

Foi tudo muito bem até o meio dia, quando percebemos que a trilha não estava batendo muito com as referências que tínhamos pegado na igreja lá em Burgos. Também tava meio diferente do livrinho-guia. Mas nós estávamos seguindo as setas amarelas - e torcendo que nenhum espírito de porco as tivesse mudado de lugar.

Em resumo, chegamos a Ribadiso ao meio-dia e descobrimos que Árzua (nossa meta) ainda estava 4km pra frente. Calculamos q isso seria uma hora e meia de caminhada, então ainda dava pra chegar lá antes do sol a pino. Caso levasse mais, decidimos que iríamos parar onde estivéssemos e esperar o sol baixar.

Deu certinho uma hora e meia. MORRO ACIMA. Gente, que subida horrorosa... Foi bem cansativo subir bem no fim da caminhada. Mas pensávamos "pelo menos não vamos ter de subir essa barranca amanhã de manhã, no escuro". Chegamos em Árzua bem cansados, e pela primeira vez na viagem toda, sentindo um pouco os músculos das pernas.

Mas aí vem a parte boa: ao chegarmos na Pensão Begônia, que tinha sido muito bem recomendada, descobrimos que eles tinham serviço de Massagem Peregrina! Uma quiroprata, a Monica, veio no nosso quarto dar jeito nas nossas perninhas (e costas, e pés, e pescoços...). Se algum dia vocês forem a Árzua, RESERVEM HORA com a Monica. O Clinton dormiu de babar durante a massagem, e eu só não dormi pq tava tentando ser legal e conversar com ela em espanhol (ela não fala inglês, mas entende português).

Depois de uma sessão relaxante, estávamos até molinhos qdo fomos comer n casa Teodora (recomendação da Monica). E que comida boa! Se forem a Árzua, RESERVEM MESA na Casa Teodora! :D Comemos um pernil com purê que dava pra cortar de colher, de tão macio.

Depois disso, carimbamos as credenciais na igreja, compramos suquinhos e fomos capotar no hotel, que amanhã ser´o dia mais longo de todos. Mas dando certo, chegaremos a Santiago!