30.6.15

Pausa rápida para explicação

Olha gente, tem sido bem complicado postar no blog porque as temperaturas estão abaixo de zero por aqui em as caixas de cabos da rua congelaram faz alguns dias. Nossa internet (e o pessoal do prédio q tem tevê a cabo) é só chuvisco e cai toda hora :P

Please, tenham paciência que esse frio tá russo! :D

29.6.15

A Caminho de Compostela, parte 8 - Um panelão de sopa!

Então saímos bem cedinho de Portomarin em direção a Palas. E hoje tinha MUITOS peregrinos no caminho. Logo na ponte, tinha um grupo de uns 20 fazendo alongamento. Mais uns 4 que saíram conosco da Pousada. Tinha o casal com malas loucamente enormes (aposto que eles iam chamar as Mochilas Davi!). E o longo de todo o dia, passamos por vários mais.

A gente parou no café "A Passo de Formiga" pra um lanche e um bocadillo
Chegamos em Palas de Rei e uma peregrina alemã tirou essa fotinho da gente. Ela perguntou há quantos dias andávamos e se ainda estávamos felizes. Ela tinha começado há dois e tava toda dolorida.


E não me perguntem por que o texto do blog ficou azul :P

Fomos para a pousada, que tinha um quarto legal e uma banheira de ficar sentadinho! Era super pequena, malemal pro meu tamanho, mas era TÃO bom! Depois de andar tanto, ficar de molho foi ótimo. Também facilitou na hora de lavar roupa, mas isso fica só entre a gente...

Também tinha inrternet lá, e falamos com o pai e com a mãe pelo Skype. Tecnologia é uma coisa linda, né? Pedimos uma sopa para dividir na hora da janta, porque não estávamos com muita fome. E que bom que pedimos só uma, porque o cara trouxe UMA BACIA de sopa. Quase do tamanho da banheira do quarto. E estava bem gostosa. O caldo Gallego é uma sopa de couve, uma delícia.

Depois fomos dormir cedo, porque amanhã vamos sair enquanto estiver escuro pra fazer uma caminhada longa. A idéia é andar cerca de 30km e chegar em Árzua. E vamos q vamos!

28.6.15

A caminho de Compostela, parte 7 - Em meio ao nevoeiro

Ponto de Partida: Sarria
Distância até Santiago: 110km

Acordamos nos sentindo pessoas novas. O Clinton estava bem e eu estava descansada. Hora de voltar ao Caminho, então! Quando descemos pra recepção, o seu José já tinha café com leite e pão na chapa pronto pra gente.

- COME UM PÃO. O CAFÉ É POR CONTA DA CASA. DEIXA A MOCHILA ALI NO CANTO.

Não só ele tinha feito café,. mas arrumou o transporte das mochilas e ainda nos disse q um outro José iria nos pegar de carro no pé da escadaria e daria a volta, deixando a gente no topo. Ele tava preocupado que começar o dia com uma escadaria poderia forçar muito o Clinton, então era pra começarmos a andar no topo, e a partir dali a trilha seria mais plana.

O Seu José foi um dos anjos que achamos no caminho. Um anjo trombeteiro, mas realmente temos muito de agradecer a ele.

Aí o outro José nos deu a carona e começamos a andar, hoje só com casaco, água e meia mochila (meia extra, capa de chuva e bandaid sempre precisa ter, né?). E contrastando com o solão do outro dia, hoje estava uma "Niebla" danada. Um nevoeiro que não se via nada. A gente tinha que olhar os postes, árvores e casas bem de perto pra achar as setas amarelas.

Mas a caminhada em si foi muito gostosa. Fresquinha, ao longo de vários bosques, e relativamente rápida. Hoje tinha mais pessoas na trilha que ontem, mas ainda uma quantidade ok.

A chegada a Portomrin é muito linda. Primeiro, tem uma ponte enorme. Depois, tem a ponte que existia quando o nível da água era bem mais alto. Ambos lindos.

E tem a igreja fortificada, que também é um graça

Almoçamos num restaurante logo ao lado da igreja (o Clinton comeu o famoso 'pulpo'. Eu admito que pratos com polvo me dão engulhos, então fiquei no bifinho mesmo), q tinha Menu peregrino. Depois fomos para a pousada de Portomarin. Era o hotel mais arrumadinho da cidade, pois eu não sabia em que estado estaríamos hoje depois da encrenca de ontem. Mas estávamos muito bem.

Chegamos antes das mochilas na recepção, mas assim que as pegamos, fomos para o quarto, descansamos e mais tarde fomos até a igreja carimbar as credenciais.

Foi meio difícil convencer a moça a carimbar, porque apesar de ela estar sentada na entrada com o carimbo, 'a pessoa que normalmente carimba não estava lá'. Aí eu abri minha credencial e mostrei onde eu queria o carimbo. E ela repetiu que a moça q carimbava não estava lá. Eu me fiz de doida e apontei com o dedo onde queria o carimbo. Aí ela carimbou, mas disse "melhor você perguntar pro padre, porque a moça que carimba não sou eu". Olha, eu tenho certeza que Deus não achou pecado ela usar o carimbo. Mas tadinha, acho que ela foi até se confessar depois por ter carimbado "no lugar da moça que normalmente carimba" :P

Voltamos ao hotel cedo para descansar. Tinha internet, então conferimos o tempo para o dia seguinte e fui olhar o preço das passagens de trem para voltarmos de Compostela, pois a ideia era chegar lá em 4 dias. E adivinhem? o susto do dia foi descobrir q dali a 4 dias não tinha trem saindo de Compostela (descobrimos o porquê mais tarde, mas fica pra depois). Tudo vendido. E dali a 5 dias, só tinha trem de noite, e perderíamos praticamente dois dias que eu poderia estar com meus pais em Madri.

Ficamos um tempo sem saber o que fazer... Mas olhamos bem o mapa e decidimos que iríamos até Palas de rei amanhã. Se estivéssemos bem, no dia seguinte iríamos fazer uma etapa longa até Arzua, e depois uma etapa com caminhada de manhã e de tarde, pra chegar em Santiago.

Isso resolvido, fomos dormir. A caminhada amanhã teria de ser muito bem balanceada se quiséssemos fazer uma perna maior depois.

25.6.15

A caminho de Compostela, parte 6 - Desafios inesperados

Ponto de Partida: Biduedo
Distância de Santiago: 138km

Após um dia maravilhoso como ontem, não esperávamos o que ia acontecer. Durante a noite, o Clinton teve muito frio, tontura, ficou enjoado, e de repente bateu um febrão. Ai, pronto, será que foi algo que ele comeu? Nah, mas eu comi e bebi exatamente as mesmas coisas. Nossa caminhada foi a mesma, a única coisa diferente é que a mochila dele é um pouco mais pesada que a minha.

Pela manhã, ele parecia melhor. Disse que poderia continuar andando. Pegamos a trilha, ainda bem sombreada, até Triacastela. Depois de uns 7km, ele começou a diminuir o passo, o que não é comum em tão 'pouca' distância.

- Clinton, vc tá bem?
- Eu... eu... eu... (*Imagine asiático pálido aqui*)

Ele tava fervendo. Meio que fui escorando ele até uma igrejinha toda de pedra, bem antiga, e coloquei ele sentadinho encostado na parede geladinha. E fui atrás de ajuda.

Andei até o meio de Triacastela, onde tinha um albergue e um café. No café, expliquei o ocorrido e perguntei onde tinha um ponto de ônibus pra gente ir até Sarria, onde teria hoteis e farmácias. Ele me explicou, ms disse que domingo não passava ônibus em Triacastela. Acho que fiz um cara tão triste q ele chamou uma moça, disse pra ela cuidar do cafe e foi comigo atrás de uma conhecida dele que tinha um táxi.

Após mais umas andadas, ele achou a moça. Ela disse que em 20 minutos estaria com o táxi na frente da padoca. Voltei pra buscar o Clinton e as mochilas, sentamos no café (onde o cara me vendeu um bocadillo parrudo pelo preço do pequeno) e esperamos. moça nos buscou e levou até Sarria, que era nosso destino final para aquele dia. No caminho, passou pelo Monastério de Samos.

- Esse lugar é muito bonito, dizem que é muito santo.

Peguei a deixa, agradeci e disse que iria pedir proteção. E pedi mesmo.

Ela nos deixou na porta do "melhor hotel de Sarria", o Alfonso Noveno. Mas tava lotado. Aí ela apontou onde era o outro, e fomos a pé mesmo porque era em uma vielinhas muito complicadas pra ir de carro. Tava lotado também. Expliquei pra recepcionista a nossa situação, e ela disse que iria ligar pros outros hotéis e pousadas até achar um quarto pra nós, já q era caso de saúde. (Veja que nesse tempo todo, o Clinton está pálido e mudo ao meu lado, coitado, sendo meio que arrstado pra cima e pra baixo. Assim como as mochilas.)

Aí ela achou uma pousada que tinha vaga. A Escalinata. O nome me deu a indicação que algo viria por aí... A pousada era no alto de uma 'escalera', ou escadaria. E lá vamos nós, menino doente, mochilas, Pá usando todos seus musculozinhos, escada acima pra chegar no hotel.

Quando chegamos, o seu José já estava na porta nos esperando.

-Ah, vocês que precisam de ajuda, né? Suzana, arruma esse quarto depressa que é emergência! Entra, menina, põe ele sentado. Pega uma água! Come um pão. COME UM PÃO QUE FAZ BEM. TÁ PRONTO O QUARTO? Foi o sol, é? Tá esgotado o coitadinho. Come mais um pão e PEGA UMA ÁGUA, COME UM QUEIJO TAMBÉM. QUE HORA PRA TOCAR O TELEFONE!

O seu José foi uma das pessoas mais barulhentas que já vi na vida. Mas era um anjo. Arranjou um quarto arejado, com banheiro, toalhas, garrafas de água, pão e queijo pra nós. ("COME UM PÃO VC TBM, MENINA, que vc não pode ficar fraca agora"!)

O Clintou dormiu até o fim da Siesta, e eu fiquei cuidando dele. Nossa conclusão é q ele caiu com insolação, de subir a montanha ontem, no sol, com peso nas costas. Erro básico, e aprendemos do pior jeito q existe um motivo muito sério para a siesta: o sol daquele horário derruba até os fortes. Como q eu não senti nada? Não sei. Carreguei menos peso, usei meu casaco por mais tempo (aí a pele não queimou)... Ou o destino queria nos testar e ensinar algo mas sem ferrar nossa viagem: deixou um dos dois em pé.

Depois de um bom descanso, bastante água e pão salgadinho, fomos até a igreja de Sarria para marcar nossa credenciais (e pedir saúde e proteção, né?). A fila de peregrinos era grande, mas chegando lá eu logo vi q ficaria tudo bem: a igreja era dedicada a Santa Marina (de todos os santos possíveis!) e tinha uma capela dedicada ao Senhor dos Passos, que em Floripa é mega importante e meu avô respeitava muito. Coincidências? Talvez. Mas foi emocionante estar berta a receber qqr alento possível e dar de cara com dois nomes tão próximos ao coração.


Comemos na Casa Manuel, recomendadíssima pela comida boa e pelo carinho da moça q nos atendeu em fazer uma comidinha levinha, do jeito q precisávamos.

Quando voltamos para o hotel, mais um lição a ser aprendida: o seu José nos recomendou ligar para o "Mochilas Davi", uma empresa que recolhe sua mochila/mala no hotel e leva até sua próxima parada. Nos primeiros dias da viagem, eu tinha achado esse serviço muito engraçado e que era "trapacear" no caminho mandar sua mochila de carro. E aí o Caminho mais um vez me fez ver que cada um tem sua própria história, e que não me cabe julgar. Eu ri do Mochilas Davi, e agora eu precisava deles. Mesmo estando melhor, eu não arriscaria, por nada, dizer pra ele carregar a mochila de novo no dia seguinte até ter certeza que ele estava bem.

Reservei pelo tablet um quarto numa pousada na cidade onde pretendíamos chegar no dia seguinte e avisei que os Mochilas Davi iam pra lá. A moça disse quue tudo bem, que muita gente fazia isso e eles estavam acostumados a cuidar de mochilas até os donos aparecerem. Eram quase 11 da noite quando fomos dormir, com o sol ainda brilhando.

20.6.15

A Caminho de Compostela, parte 5 - Para o alto e além!

Ponto de Partida: Piedrafita do Cebreiro
Distância de Compostela: 155km

Nosso dia começou com um passeio rápido por Ponferrada e o último ônibus do trajeto. A partir de hoje, a ideia é andar até Santiago. Era cerca de meio dia e 40 quando o ônibus chegou na rodoviária de Piedrafita, a cidade de onde começaríamos a contar somente com nossas perninhas. É o local que consta dos nossos certificados, embora algumas pessoas dissessem que poderíamos ter colocado a partir de Burgos no documento. Achamos melhor não: até ontem éramos peregrinos-turistas, a partir de hoje somos peregrinos 'true' :D

Piedrafita é uma cidade na divida de Castilla Y León com a Galícia. Achamos que seria um bom marco para começar, pois andaríamos um 'reino' inteiro. A cidade é meio fora do Caminho, mas possui uma trilha até Cebreiro - uma cidade bem medieval que é conhecida por ter um das barrancas mais complicadas do Caminho todo.

E os dois gênios escolheram começar aqui. Claro. Que bela ideia.

Por mais que você tenha andado um bocado nos últimos dias, andar 5km morro acima não é uma tarefa fácil. Por sorte não estava muito quente (ou ao menos foi o que pensamos). Fomos devagarinho, bebendo bastante água, e apesar do esforço estávamos mega-felizes e empolgados porque a paisagem era um das coisas mais absurdas.

Parece que todas as montanhas do mundo são suas! :D

Era passado das 3 da tarde quando chegamos no alto. Estava até com um bocadinho de neblina lá em cima, e custamos a achar a entrada de Cebreiro. Mas quando entramos, sabímos que estávamos no lugar certo. Era lindo, e acho que foi o lugar mais mágico de todo o caminho.

Olha a 'medievalidade' do lugar!

Cebreiro tem 62 habitantes, 4 hostels de peregrinos, uma lanchonete e uma igreja. E só. Tudo é de pedra, e a igreja é do ano 900.


Tipo, 600 anos antes de os Portugueses chegarem no Brasil, já tinha gente rezando aqui. Paramos e nos juntamos um grupo de peregrinos para pedir proteção. Comemos um bocadillo e tomamos suco de laranja para depois continuarmos andando.

Nossa ideia era caminhar pelo menos até Fonfria, e a partir dali, qualquer cidade a mais era bônus. No fim, como ainda estávamos meio receosos de quanta luz teríamos na trilha, paramos cerca de 18h30 em Biduedo, um finzinho de mundo no meio do mato sem nada, só com paisagens lindas e uma pousadinha. Um rapaz parado na porta disse "ei, aqui é mais caro que nos albergues, mas é bem limpo e quentinho!". Resolvemos parar, e perguntamos de onde ele era, pois o inglês era muito bom.

- Sou de Camberra, na Austrália. Conhece?

QUAL A CHANCE de achar alguém da sua cidade no meio do mato? O Pete e a amiga dele eram australianos, e estavam andando desde a França. Jantamos juntos um Caldo Gallego muito bom (é tipo um sopa de couve) e depois fomos dormir. O quarto realmente era limpo e quentinho. Fomos dormir mega-felizes, pois o dia foi muito bom.

14.6.15

A caminho de Compostela 4 - O Castelo Templário

Ponto de Partida: Ponferrada
Distância até Santiago: 205km

Após passarmos na estrada muito perto da catedral de Astorga e ficarmos sentidos que não pararíamos para visitar aquele lugar, nosso busão chegou a Ponferrada ainda no meio da tarde (porque fica claro até bem tarde). Não tínhamos hotel reservado, não conhecíamos o lugar, só sabíamos que tínhamos de visitar o castelo templário. Ponferrada é uma cidadezinha bem pequena no vale de El Bierzo, e se alguém já ouviu falar dela, é porque lá fica um Castelo Templário, o maior ao longo do Caminho de Santiago. Sendo o Clinton um fã da história das Cruzadas e eu fã de tudo que é medieval, tínhamos de parar aqui. Andamos um bocadinho até chegar onde fica o Castelo, e vimos que logo ao lado tinha uma pousadinha. Parecia meio mequetrefe à primeira vista, mas qualquer hotel de marca (tipo, Marriot ou Accor) ficava tão longe que resolvemos ficar por ali mesmo. E era bom, pq sabíamos que assim que começássemos a caminhar, seriam só pousadinhas e abrigos.

E até q a tal pousadinha "La Virgen de la Encina" nãao era ruim não, é só pq a frente dela tinha tanta janela, mesinha, gente q parecia bagunçada. Mas pegamos um quarto no andar mais alto q era bem bonitinho. Só demorava a ter água quente - mas água quente numa cidadezinha no meio do nada é luxo, vai.

Cadeamos nossas coisas, trancamos as mochilas dentro do guarda-roupa (quem não tem cofre, caça com guarda-roupa!) e fomos visitar o Castelo, que ficava a menos de 20 metros da pousada.

Nossa pousada era do lado da casa amarela, e o castelo tava ali, logo à direita.
Olha que lugar lindoooo!:D
O Clinton disse ter ficado impressionado com as capacidades defensivas do lugar, e que mesmo hoje seria difícil invadir o castelo.

Os móveis não estão mais lá, mas todas as muralhas e salões sim. Não é um castelo de conto de fadas, mas sim um castelo militar. Era feito pra ter espaço de treinamento e pra defender a região. Totalmente diferente de um Versalhes. Aliás, por causa desse lugar, aprendi a diferença de castelo e palácio. Castelo é para defesa, palácio é para ser bonito e ter eventos.

Dá pra ver os dois lados do rio e a cidade toda lá de cima.

Depois de um bom passeio lá por dentro, onde conhecemos o peregrino Jim, um senhorzinho de cabelo branco dos Estados Unidos, fomos jantar atrás da igreja da Virgen da Encina, onde havia vários restaurantes. Uma moradora do lugar que me explicou que Encina é uma árvore, e a igreja se chama assim porque acharam uma imagem de Maria escondida num oco por ali.

No restaurante de tapas, as porções eram tão grandes que tivemos de chamar o Jim e a amiga dele para nos ajudar a comer. Ainda ganhei um abraço do garçom, quando disse que era do Brasil. Ele disse que a mãe dele era brasileira, mas ele nunca teve a oportunidade de ir visitar o país. Outros peregrinos que estavam lá acharam lindo, emboram não tenham entendido o que estava acontecendo.

Aliás, ali nós vimos bem mais peregrinos do que nas outras cidades, tanto pé quanto de bicicleta (os 'bicigrinos'). Talvez porque já esteja mais perto. Foi também um lugar onde o caminho estava muito bem demarcado. Para nós, a caminhada começaria no dia seguinte. Estávamos empolgadíssimos!

É só seguir a estrada de setinhas amarelas, Dorothy!

13.6.15

A caminho de Compostela, parte 3 - Uma Noite no Museu

Ponto de partida: León
Distância até Santiago: 305km

Os guias de viagem dizem q a caminhada entre Burgos e León é uma das mais fáceis fisicamente, porém a mais difícil para a mente. Isso porque o terreno é todo plano. Mais de 100km de linha reta por plantações sem fim. Basta andar, mas não há quase ninguém nessa parte da trilha, nenhuma cidade grande, e só campos até onde a vista alcança. Para pessoas que não gostam de solidão, pode ser um desafio e tanto.

Fizemos esse trecho de ônibus, e foi muito estranho pensar que levamos pouco mais de uma hora pra fazer um trecho que se leva quase 4 dias andando. Entramos em León umas 5 e pouco, e fomos direto para nosso hotel, o Hostal de San Marcos.

Há vários séculos, esse prédio era um hostel e hospital de peregrinos do Caminho de Santiago. Depois, tornou-se a sede da Ordem de Ssntiago. O prédio tem sua própria igreja, seu próprio coro, clausura, uma infinidade de pinturas... É como passar a noite em um museu. Jantamos no hotel mesmo. Apesar de ter virado um empreendimento privado, ainda dá desconto para peregrinos. Dormimos que foi uma beleza!

No dia seguinte, fomos (debaixo de chuva) visitar a Catedral de León, que muitos dizem ser a mais bonita da Europa. Se é a mais bonita, não sei, mas é impressionante. Construída em estilo gótico, tem os arcos colocados de maneira que seguram toda a estrutura, e as paredes são todas de vitrais. É muito colorido, e mal dá pra acreditar que um prédio tão alto fique em pé tendo tantas paredes de vidro. Com a tecnologia existente em 1205. É de cair o queixo.

Catedral, por fora e por dentro

Assim como na Catedral de Burgos, alugamos os foninhos de audioguia para saber mais sobre o lugar e pegamos um carimbo pra a credencial. Depois andamos pelo centro da cidade, que é bem moderno, visitamos alguns outros prédios históricos e voltamos para o hotel. Ainda tinha várias salas que não tínhamos visto. Além disso, tínhamos de fazer checkout e também pegar mais um ônibus Alsa para a próxima parada, a cidadezinha não muito conhecida de Ponferrada. E lá vamos nós!

12.6.15

A Caminho de Compostela, parte 2 - Começamos bem

Ponto de partida: Burgos

Distância de Santiago: +-450km

Chegamos em Burgos no meio da tarde, e na rodoviária já aprendemos a usar as máquinas de bilhetes da Alsa, a empresa de ônibus. Compramos a passagem para nossa próxima parada e fomos caminhando na direção do hotel.

O Caminho de Santiago "tradicional" inteiro tem quase 800km de comprimento, começando na borda da França com a Espanha. Em geral, as pessoas levam de 30 a 40 dias para fazê-lo inteiro. Quem andar mais de 100km (uma caminhadinha bááásica) ou pedalar mais de 200km ganha um certificado no final. Como não tínhamos mais de 3 semanas pra tirar de férias, decidimos que íamos visitar algumas cidades importantes do caminho de ônibus, ao longo da região de Castilla y León, depois andaríamos toda a região da Galícia (cerca de 150km). A primeira parada, que se mostrou uma bela escolha, foi Burgos.

Nosso hotel, o Palácio de Burgos, era um antigo monastério. Os quartos eram bem pequenos e estreitos, por serem antigos quartos de padres, mas LINDOS. Meu deus, que coisa maravilhosa. E o banheiro tinha banheira. Foi um hotel meio caro, mas pro cansaço que estávamos, foi uma benção.

Cada um tinha TRÊS travesseiros :D

Saímos para passear pela cidade, que começa no Arco de Santa Maria, após uma ponte bem na frente do hotel. Passando o arco, que é lindo por si só, você chega na catedral, que é o desbunde da belezura.

Entramos, olhamos o lugar por três horas e tivemos de sair meio correndo sem ver tudo pq estavam fechando a igreja. Cada capela, cada detalhe era bonito. Burgos era uma cidade muito rica na Idade Média, então a catedral foi construída com muitos detalhes e capelas para vários santos.

Eu não sou católica, mas não acho que seja necessário ser religioso pra apreciar uma construção como aquela. Além disso, depois q voltei, um conhecido (que tbm não é católico) disse não ver sentido em construir prédios tão grandes e gastar tantos metais preciosos pra agradar a Deus ou a santos. Minha opinião sincera sobre isso é que realmente, não é necessário. Mas a arquitetura é bonita, a pintura e as esculturas são lindas. E se alguém se dedicou a esculpir cada uma daquelas coisinhas lindas na pedra, ou se uma cidade inteira se uniu pra pagar um Rafael ou um El Greco para pintar um mural, com boa intenção, pq isso era importante pra eles, isso tbm não é bonito?

Não vamos entrar aqui nos detalhes de "ah, mas tem casos em que levaram dinheiro das pessoas, enganaram com promessas loucas e blá blá blá". Claro que tem. Mas olhando pra essa cidade como patrimônio histórico, não tem como não se impressionar.

A praça central da cidade, com seus predinhos coloridos.

Fomos jantar num restaurante de Tapas recomendado pela recepcionista do hotel. Tapas são o equivalente dos nossos petiscos ou salgadinhos, e vc paga por unidade ou porçãozinha. Pegamos um mini-sanduíche, um misturadinho de anchova grelhada com algum vegetal e mais uns beliscos, todos esquisitos, mas deliciosos. E ainda estava passando na tv um jogo do Barcelona, o que deixou o lugar muito animado. Andamos mais um pouco pela cidade e só depois fomos dormir. Era umas 21h, mas ainda estava claro.

No dia seguinte, voltamos cedo para terminar de ver a catedral por dentro, e tinha capelas maravilhosas. Também pegamos nosso primeiro selo na Credencial de Peregrino. A credencial é um documento que todos os peregrinos carregam, e tem de carimbar (com data) conforme passam por cidades diferentes, para conseguir provar que caminharam por aqueles lugares. Pegamos as nosss em Florianópolis no ano passado (loja Capitão Malagueta), mas tem lugares em SP e em várias outras cidades que têm também.

Depois da catedral, andamos pela cidade toda, subimos uma ladeira até o mirante, de onde era possível ver a cidade de cima. Tinha também vários ninhos de cegonha! Eu nunca tinha visto uma cegonha de verdade!

Um ninho enooorme!

Fomos almoçar num restaurantezinho simpático chamado Amarillo, onde o menu del dia custava 10 euros. Menu Del Dia é uma seleção de entrada, prato e sobremesa, geralmente com uma bebida. Escolhemos sopa, pasta, paella e bife. Pra beber, eu pedi vinho branco e o Clinton pediu tinto. Nós nunca íamos imaginar q, por quele preço, o almoço viria com GARRAFAS de vinho, não copos. Caímos na risada... Comemos bem, o vinho era bom (mas nunca que íamos beber duas garrafas, nossa =o.O=) e trocamos uma das sobremesas por uma garrafa de água. A comida estava ótima e recomendamos muito! :D

Aí fomos depois do almoço visitar alguns outros lugares, e nos deparamos com um hábito espanhol q tínhamos esquecido: a siesta espanhola. Tudo fechado até as 17h. Então passeamos pela cidade meio fechada (fomos a um monastério real gigantesco, onde princesas e meninas nobres viravam freiras), pegamos nossas coisas no hotel e entramos no ônibus para nossa próxima parada. A capital de Castilla Y Leon, a cidade de León.

9.6.15

A caminho de Compostela, parte 1 - "Você comprou a mais barata, né?"

Vou começar a contar, aos pouquinhos, como foi nossa peregrinação até Compostela. Fazia muito tempo que eu queria fazer essa caminhada. Não sei de onde veio a ideia. Faz muito, muito tempo mesmo, e eu não lembro porque razão eu decidi que queria ir. Uma das lembranças mais antigas que eu tenho é do Paulinho da Maria Marta contando que tinha feito essa caminhada, uma vez que fui na casa deles no Santa Mônica. Eu tinha, no máximo, uns 12 anos, mas acho que era mais nova. Anfã, daí vocês tiram que esse item tá na minha lista de viagem a fazer há DÉCADAS.

Num fórum online que participo sobre o Caminho, dizem que "a caminhada começa quando você decide ir". Bati o martelo no fim do ano passado, qdo vi uma liquidação de passagens para a Espanha pela Emirates. O preço de ida-e-volta pra mim e pro Clinton estava mais barato do que a passagem normal pra uma pessoa. Foi qdo eu decidi "essa chance não posso perder". O Clinton, que não conhecia o Caminho antes de eu comentar, estava empolgadíssimo - ele curte trilha, viagem e História. Era a combinação perfeita: eu tinha férias pra tirar, um parceiro de caminhada, dinheiro guardado e passagens baratas. Mais mole q isso, só sentando num pudim.

O dia de viajar demorou, mas chegou. No meio tempo, treinamos caminhada, compramos equipamento que faltava, fizemos até aula de espanhol. E bora pra rodoviária, pegar busão pro aeroporto de Sydney!

Chegando lá, uma surpresa. A passagem tinha sido muito barata por uma razão. Era Sydney-Madri via Dubai, com escala em BANGCOC. Vocês têm noção do balão que fizemos pra chegar, né? Foram 40 e poucas horas de voo, e eu só pensava no Sandro e na Andrea, discutindo sobre "as passagens mais baratas". Não acabava NUNCA aquele voo. Vi 4 filmes e comi as coisas mais malucas, porque a Emirates adapta o cardápio de acordo com o país. Na saída de Bangcoc, o café da manhã foi macarrãozinho com camarão ao alho. Com café, leite e pãozinho, pra ninguém ter dúvida q era café da manhã.

Outra coisa que diziam muito no fórum era "ser agradecido pelo que o Caminho lhe dá". Quando estávamos saindo de casa, eu comentei com o Clinton que tinha esquecido de comprar um caderninho para fazer as anotações da viagem. Ele disse: "não se preocupa, eu tenho um que posso te dar". Aí ele me deu um caderninho do exército, verde, manchado e velhinho, todo feiosinho, coitado. Eu fiquei desapontada, porque queria anotar essa viagem num caderninho bonito. Mas aí lembrei do 'agradeça o que o caminho lhe dá', e pensei: "antes eu não tinha caderno. Agora eu tenho um, que é feinho, mas que aguenta tranco. Ok, eu devia mesmo estar agradecida". Primeira lição, aprendida.

Quando chegamos em Madri, completamente zuretas e tortos, ficamos bastante surpresos em como foi fácil organizar nossa vida: ganhamos um chip de celular pré-pago de uma operadora que estava fazendo propaganda no aeroporto, ativado na hora. Guardamos uma mala na consigna (depósito), para buscar depois que terminássemos a trilha (ia custar caro, mas era fácil e seguro). E dali mesmo tinha saída de trem para Burgos, que seria nosso primeiro destino. Compramos as passagens e ali mesmo começamos a encontrar peregrinos que, como nós estavam chegando. Um alemão que fazia o Caminho pela segunda vez deu umas dicas de Burgos, e nós demos umas dicas pra um casal de brasileiros de Curitiba que ainda precisava arranjar telefone.

E lá fomos nós, pela estrada linda que vai para o norte da Espanha. Camberra-Sydney-Bangcoc-Dubai-Madri-Burgos, e finalmente nosso caminho começou! :D

8.6.15

De volta e com um caminhão de assunto pra botar em dia! :D

Olha, postando rapidão pra avisar que o blog não morreu. A maioria de vcs sabe q eu tava viajando, e assim que voltei tinha bastante coisa pra resolver. Mas vou colocar tudo em dia e contar as histórias de Compostela, que são muitas.

Só pro post não ser muito irrelevante, uma coisa curiosa: essa semana usei a palavra 'pandorga' no trabalho e riram, dizendo q isso não se diz há séculos.

É sério isso, Arnaldo?