4.7.15

O fim - e a conclusão que o caminho é muito maior

No dia seguinte, dormimos até 'tarde': 8h30. Descansados e (na medida do possível) limpos, tomamos café e fomos visitar a catedral, desta vez direito.

A catedral é muito bonita e muito GRANDE, não conseguimos uma foto onde apareça ela toda. Seguindo a tradição, demos um abrço na estátua de São Tiago que fica no altar e entramos na cripta, onde estão os ossos do santo. Agradecemos pela viagem, por termos saúde pra encarar uma vigem dessas e por tudo o que vimos no caminho.

Também fizemos o tour com audioguia, que explicava boa parte das capelas, visitamos o museu dos tesouros (só umas bobaginhas, tipo quadro de Velazques, El Greco, Goya, um monte de ouro e diamantes...) e fomos com uma guia para o teto d catedral, onde ela nos explicou um pouco da história da cidade olhando de cima.

Foi mais um dqueles momentos "mordi a língua". Ao longo da trilha, várias vezes eu me peguei julgando o pessoal que vem ultra cheio de equipamentos, gps, tudo em titânio, e dorme só em hotel chique. Eu e o Clinton questionamos onde estaria o quesito 'penitência' de fazer o caminho assim, já que uma das razões originais do Caminho de Santiago era a pessoa pagar seus pecados por causa da dificuldade da trilha. Mas se tem mochilas Davi, hotel chique, gps, e um guia q vai na frente reservando restaurante, traduzindo tudo e apontando os atalhos, a gente achou q era meio demais.

Mas a guia do telhado disse uma coisa que destruiu o meu preconceito a machadadas. Ela disse "a cidade só cresceu depois que os peregrinos 5 estrelas começaram a vir em peso. Peregrino tradicional, sujinho, é muito lindo e espiritual mas não traz dinheiro pra cidade. É o peregrino cinco estrelas que cria empregos, precisa de hotel, restaurante, guia, manicure, cabeleireiro."

Pá, anota mais essa no caderninho de bordoadas que o Caminho te deu.

Mas aí, feliz por ter aprendido mais algo, eu passei a admirar ainda mais aquela cidade, que estava ali de portas abertas pros limpinhos e pros sujinhos, pr quem andou 800km ou pra quem fez só os últimos 100km. Cada um tem seu caminho, e só a própria pessoa sbe o que vi aprender nele.

A sensação de andar lá em cima era incrível

Dava pra ver a cidade toda!

A bacia de pedra de lavar peregrino fedido lá embaixo!
O altar principal da catedral, onde foi a missa. Esse porta-incenso pendurado pesa 50kg.
O altar da capela das relíquias é todo entalhado em madeira.

Depois de ficarmos a manhã inteira na catedral, que é lindíssima, fomos almoçar num restaurante parceiro do hotel (onde o vinho seria de graça). Passeamos pelo centro, compramos símbolos de Santiago para nossas mochilas e depois voltamos 'a catedral para a Missa dos Peregrinos. E como o mundo dá umas voltas engraçadas, sabe quem sentou do nosso lado? O Peter e a Heather, os peregrinos de Camberra que tínhamos encontrado diiiiiias atrás. Chegamos juntos.

Foi uma missa muito bonita, quase ecumênica, sem aquelas chatices de 'temer a Deus blá blá'. Era sobre amor e respeito, e eu traduzi o melhor q pude para os três australianos, tentando não incomodar quem estava ao redor. Tinha cerca de 2 mil pessoas dentro d igreja.

O trecho q nos marcou foi esse:

"Ao longo do Caminho, vocês peregrinos encontraram pessoas do mundo inteiro. Pessoas muito diferentes de vocês. Alguns em momentos de alegria, alguns em momento de dificuldade. Compartilharam água. Compartilharam sanduíches. Compartilharam band-aids e remédios. Porque no Caminho vocês todos se sentiam peregrinos e se ajudaram.
Se puderem levar para casa uma lição apenas dessa experiência, levem a lição de compartilhar. Somos todos humanos no Caminho da vida, que para alguns é mais árduo e para outros é quase um passeio. Compartilhe sua água. Compartilhe sua comida. Estenda a mão para que o outro supere um obstáculo. Você não precisa estar na Espanha para estar no Caminho. Basta estar vivo. Bom Caminho a todos."

Só de digitar eu quase choro de novo. De lembrar da Igrejinha do Cebreiro, da taxista, do seu José do Pão, da americana que gostava de flans, da cozinheira da Pulperia, de todos os peregrinos com quem conversamos rapidamente ou por vários kms, da recepcionista do hotel... De tanto que foi compartilhado ao longo dos nossos 155km.

Saímos da missa felizes. E aí era hora de seguir viagem, porque hoje tinha vaga nos trens, e amanhã não. Fomos comer de novo no Celmo do Caracol, porque era muito bom, e descemos com as mochilas para a Estação de Santiago. Tínhamos uma cabine com beliche e banheiro, mas não pensem que isso quer dizer luxo. Foi caríssimo, disparado o maior gasto que tivemos na viagem toda, e ainda assim o espaço TODO da cabine+banheiro era a largura de uma cama de casal. Pra duas pessoas, beliche, banheiro...

Não tem foto porque não tinha espaço pra esticar o braço e bater foto.

Mas admito: eu adorei. Dormi com o balancinho do trem que foi uma beleza! Depois de nove horas, o condutor bateu na porta de manhã cedinho e avisou que estávamos chegando na estação em Madri, onde faríamos baldeação para Toledo, nossa próxima parada.

Porque o Caminho continua.

2 comentários:

Dani disse...

Gratidão é o sentimento ao terminar de ler seu relato sobre o Caminho. E você me fez chorar fácil com suas palavras. Obrigada mesmo por iluminar a minha jornada com a sua luz providencial.

É... Gratidão define. ♥

Carmen disse...

Ana Paula
Não tem como não chorar ao ler teu relato!
Realmente, o caminho terá sempre um sentido diferente para cada um que o fizer! Mas certamente ele faz despertar em cada um o espírito solidário!
Nunca estaremos sozinhos por mais que assim o sintamos! Carregamos muito em nossos corações e é somente com esta bagagem que as vezes podemos contar!!
Bj grande!
Parabéns pelo relato! Espetacular!!