25.2.15

A utilidade das etiquetas e porque não deveríamos usá-las tanto

Uma coisa que não pára (e acho que nunca parará) de me surpreender aqui na Austrália é a cara de tacho que as pessoas fazem quando eu digo que sou brasileira. Muitas entram em modo "tela azul". Não é exagero. Invariavelmente, a resposta é "nossa, você não parece brasileira".

A razão do comentário (infeliz) é (infelizmente) racismo. Não aquele tipo de racismo que lgumas pessoas sentem de ter nojo de outras, ou achar q são inferiores e tals. É mais um racismo no sentido de achar que cada povo tem uma cara só. Eu realmente acho que não é maldade deles, que isso fique claro. É ignorância mesmo.

Não entra na cabeça deles que uma pessoa branquela como um coró de goiaba possa ser brasileira. "Mas você tem família europeia, né?" é outra pergunta frequente. Olha, meus bisavós eram mesmo europeus. Mas faz três gerações, ou seja, uns cem anos pelo menos, que minha família é brasileiríssima.

O problema, e a causa do 'travamento', é que eu não encaixo com a 'etiqueta', ou com a caixinha, que os Australianos usam pra classificar todos os brasileiros. E o costume de 'etiquetar' tudo é fortíssimo aqui. Vem desde a época dos ingleses, que fazem a mesma coisa. Tudo tem nome, descrição e modo de funcionamento. TUDO ganha uma etiqueta. Eles adoram compartimentar as coisas. Se você não é australiano branco, ganha uma etiqueta de acordo com sua 'origem', mesmo q seja nascido e criado na Austrália. Se você é pró-direitos gays, logo perguntam em qual letra do LGBTQIA vc se encaixa. Empregos públicos aqui têm nome e número, tipo Gerente 1, 2 e 3. E se o cara é gerente 2 e alguém pede ajuda em algo q um gerente 1 ou 3 faria, MUITA gente se recusa a fazer porque "não é meu job description".

Etiquetas podem ser úteis pra facilitar nossa compreensão inicial do mundo. Mas gente cresce, evolui, e um dia deveria perceber que muitas etiquetas que criamos não servem pra todas s coisas. E pior: podemos machucar muita gente forçando-as a caber nas nossas caixinhas pessoais. Graças a Deus nunca tive problemas, mas não é difícil imaginar que muita gente deve se sentir muito mal.

Nota: este post não foi motivado por nenhum acontecimento em especial nem é uma reclamação. É só uma constatação. E não se restringe aos australianos, acho que todo mundo faz isso um pouco. É só porque aqui é BEM evidente.

Um comentário:

PrincessF1 disse...

Concordo totalmente contigo. De algum modo, o ser humano em todas as sociedades faz isso mesmo. Categorizar as coisas/atitudes parece ser um dispositivo de segurança. Foi a discussão em família no Natal: "Desafio 2015: ser menos babaca hoje do que fui ontem".