Ano passado, li "A Casa de Seda", escrito por Anthony Horowitz. Ele foi autorizado pelos herdeiros do Conan Doyle a escrever a primeira história de Sherlock Holmes desde a morte do autor original. O livro é fantástico, 100% recomendado para fãs de Sherlock. Mantém o mesmo estilo, têm várias referências (às vezes até demais), mas é impressionantemente "Doyliano".
Aí esse mês foi lançado "Os Crimes do Monograma", da Sophie Hannah, autorizada pelos herdeiros da Agatha Christie a escrever uma aventura nova do Poirot. Corri pra comprar, né? Gosto mais do belga do que do inglês, não podia perder essa.
O problema é que foi meio decepcionante. Logo nas primeiras páginas, você nota que o estilo de escrita é diferente. O pior é que ela parece usar do artifício muito simplório de mudar o narrador da história (Policial Catchpool, em vez do tradicional Hastings), pra disfarçar essa mudança de estilo. E ao longo do livro, o Poirot tá muito forçado. O Catchpool faz perguntas, e o poirot NUNCA responde. Ele sempre deixava o Hastings no vácuo, originalmente, mas nesse livro o cara mal engrena uma conversa de gente normal. E algumas maluquices do Poirot também entram muito a facão na história, como a mania por simetria ou limpeza.
Em geral, o livro é bom. A história é mega-complexa, mas bem amarrada. Mas não devia ter sido escrita com o Poirot. Aquela é só uma "brincadeira de Poirot", não o artico genuíno. Vale a leitura a título de curiosidade, mas não esperem muito não.