Todo dia eu vou pro trabalho caminhando, sempre pela mesma rota: a ciclovia, que eu já mencionei aqui no blog várias vezes. É uma caminhada gostosa, que eu vejo as pessoas da vizinhança, vejo os passarinhos, é bem relaxante. Mas essa semana estava chovendo todo dia de manhã. MUITO.
Fiquei observando a chuva da minha janela de casa, e quando vi que aliviou, botei meus tênis impermeáveis, peguei o guarda-chuva e fui. Tava só uma garoinha fraca, e depois parou. Eu e o Clinton fomos conversando boa parte do caminho juntos. de repente, eu apontei pra um amarfanhadinho na nossa frente.
- O que é aquilo ali?
- Um livro?
- Sim, um livro... (eu me abaixei pra pegar o montinho caído do lado da ciclovia). E uma carteira. Cheia de cartões!
Tinha cartão de banco, de ônibus, de identidade, de motorista, de saúde... A moça q perdeu, que vamos chamar de Fulana, não tinha muito dinheiro, mas tinha muitos documentos naquela carteira. Olhamos em volta, e não tinha mais niguém na ciclovia (provavelmente por causa do tempo feio). Ninguém procurando. Será que Fulana deixou essa carteira cair? Ou será que foi roubada? Não tinha nenhum dinheiro dentro, então talvez tivessem roubado, levado o dinheiro e jogado o resto fora. Não sei, mas com certeza ia dar muita dor de cabeça.
Continuamos andando até o fim da quadra, onde sempre tem uma guardinha com uma placa ajudando as crianças a atravessarem a rua perto da escola. Aqui na Austrália chamam essas pessoas de Supervisor de Faixa, ou de "Homens-Pirulito", por causa da placa redonda com cabo comprido.
- Dona Pirulita, passou alguém aqui na rtua procurando por uma carteira? Nós acabamos de achar uma no chão!
- Não, não vi niguém. Será que foi alguém que foi ali pra escola?
Era uma boa hipótese. A carteira tinha um documento de autorização pra trabalhar com menores. Funcionários de escolas geralmente precisam dsesse documento - eu tenho um também. Como estava chegando perto da hora de começar a trabalhar, dividimos esforços. O Clinton foi perguntar na escola e eu continuei meu caminho para a universidade, pra pesquisar na nossa base de dados se ela trabalhava ou estudava lá.
Continuei caminhando e pensando no que ia fazer. Levar pra delegacia? Postar em rede social? Estava minhocando uma idéias quando vi a mala. Estava meio afundada dentro de um dos canais de vazão de chuva que eu cruzo pra chegar no trabalhyo. Da cabeceira da ponte eu vi aquela mala comprida, de couro, preta e vermelha, dentro do canal.
Meu sangue gelou. O comprimento da mala era tipo a minha altura. Fina e comprida. Parecia estar bem pesada, mas ainda bem nova. Olhei pros meus tênis impermeáveis e decidi q era hora de testar. Desci pelo lado do canal, agarrei uma das alças e puxei. Um peso danado. "Jesus amado, é hoje o dia que eu acho um cadáver no rio?", eu pensei. E logo em seguida, um pensamento ainda pior: "será que é o cadáver da fulana?"
Consegui puxar a mala pra fora da água. Sem brincadeira, parecia pesar uns 50kg - mas assim q saiu da água e um pouco do líquido escorreu, eu percebi q não era tanto, e o movimento era rígido demais pra ter algo orgânico dentro. Coloquei no chão, do lado da ponte, e abriu o zíper de cima.
Tacos de golfe. Uns 10 tacos de golfe. Com certeza não era o que eu esperava - mas nem eu sei o que eu esperava.
Aquilo não caiu no canal por acidente. E ninguém ia perder aquela sacola sem notar. pra mim, a única coisa q fazia sentido era que alguém tinha roubado aquela mala, não conseguiu carregar por causa de peso e jogou no rio. A chuvarada dos dias anteriores fez a mala descer pelo canal. Era peso demais pra eu levar até o trabalho, e eu já tinha um mistério pra resolver. Meio a contragosto, deixei a mala fora d'água, do lado da ciclovia, e segui meu caminho. A prioridade era devolver a carteira da Fulana.
Ah, sim. Os tênis impermeáveis funcionaram. Cheguei no trabalho com os pés sequinhos, mesmo com toda essa aventura.
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